Como me tornei UX designer

Andrea Braga
6 min readJun 18, 2021

e o que aprendi ao longo do caminho!

Recentemente, muitas pessoas em início de carreira tem me procurado — estudantes, UX Jrs, estagiários e até pessoas de outras áreas com interesse em migrar — pedindo sugestões de como ingressar no mercado de UX (User Experience ou Experiência do Usuário, pra quem não está familiarizado com o termo), querendo tirar dúvidas e otras cositas más. Isso me fez querer escrever um pouco sobre a minha trajetória e o que aprendi desde que decidi mudar de área.

Em meados de 2016 eu trabalhava no setor público, com redação de documentos oficiais. Embora estivesse numa instituição responsável pelo patrimônio material e imaterial do Brasil, cercada de história e cultura — coisas que me fascinam — a dinâmica do trabalho era bem monótona ( na verdade, não tinha dinâmica. Haha) e eu não via perspectivas de crescimento. Naquela época, eu já estava um pouco desmotivada com os caminhos que a graduação em Letras havia me proporcionado e estava decidida a mudar de área.

Ao longos dos quatro anos do curso de Letras, eu senti muita falta de ver o resultado prático dos meus estudos. Queria algo que tangibilizasse minhas ideias, que eu pudesse colocar no mundo e ver o impacto disso. Foi então que o meu marido me falou sobre UX/UI* (obrigada, mor. só a gente sabe como isso nos impactou positivamente ❤). Na época, a empresa em que ele trabalhava estava passando por um processo de rebranding e transformação digital, e isso me colocou em contato com algumas pessoas da área e muito conteúdo também.

O Design resolvia meus problemas: uma ciência social aplicada era o que eu precisava! Larguei o emprego (tive esse privilégio) e me matriculei na graduação em Design Gráfico, que naquele tempo era o mais próximo de UX que tínhamos em Brasília. Não foi fácil. Em 2016 eu já estava casada e com um filhote, também já me sentia velha demais para recomeçar. Sofri muito com a minha autocobrança, mas eu tava certa de que era esse o caminho e quando coloco uma ideia na cabeça, ninguém tira. Nem eu mesma!

Sábia decisão. A graduação no Gráfico foi essencial para que eu entendesse os fundamentos do Design, aprendesse a usar os softwares necessários, conhecesse professores incríveis, entrasse em contato com o Design Especulativo — área do Design que me encanta um tantão, quero falar sobre isso aqui, em breve — e ainda ingressasse no mercado com algumas coisinhas no currículo. Aproveitei o período de estudante para fazer um intercâmbio na Cidade do México (ainda vou contar sobre essa experiência por aqui também, foi muito importante pra mim e o que me abriu os olhos para a docência), fiz projetos acadêmicos para clientes reais (de graça, óbvio. Haha), iniciei uma pesquisa de Iniciação Científica em Tipografia e ainda fui monitora por dois anos, ajudando alunos com dificuldades nas disciplinas, o que me rendeu uma experiência inédita de trabalhar com um aluno com síndrome de Ásperger e poder exercitar a empatia no sentido mais profundo dessa palavra. No fim das contas, fazer uma nova graduação mais perto dos 30 do que dos 20, te dá a maturidade de sugar tudo o que a universidade te oferece. E foi isso que eu fiz!

Apesar disso, profissionalmente, eu nunca atuei como Designer Gráfica. Sempre soube que era UX o caminho e assim fui em busca de oportunidades nessa área. Procurei eventos, cursos, livros, vídeos, enfim, tudo que eu achava que podia me dar algum respaldo. Vesti a cara de pau no Linkedin, adicionei e troquei ideia com pessoas que já estavam no mercado e, felizmente, todas foram muito solícitas e atenciosas, obrigada comunidade de UX ❤

Até que a oportunidade chegou! No fim da graduação em Design, eu fui selecionada entre mais de mil candidatos (gosto de lembrar disso. hihihi) para participar do CESAR Summer Job, em Recife, num projeto de seis semanas, com uma ajuda de custo maneira e a chance de trabalhar para um cliente como a Coca-Cola (meu caso). E foi incrível! Eu pude aplicar tudo o que eu vinha estudando, usar ferramentas de Design Thinking, trocar ideia com stakeholder, ter mentorias em Design, Tecnologia, Negócios… e, o melhor, fiz amizades que trago no coração até hoje! Alguns, inclusive, são atuais colegas de trabalho na ThoughtWorks, onde estou hoje. Um dia conto com mais detalhes sobre o Summer Job também (=

Depois disso, muitas outras oportunidades se seguiram. Já trabalhei com clientes do setor agrícola, RH, indústria de bebidas, educação, construção civil; em parceria com startups, com empresas de grande porte; como Designer de serviços, Product Designer, UX Writer… Ufa! Quanta coisa em tão pouco tempo!

Com tudo isso, vieram algumas lições e muitos aprendizados. Aí vão:

  1. Seja curiosa e até inquieta. A vida inteira eu busquei aprender coisas novas. Não à toa, já fiz aulas de pintura em tela, ballet, taekwondo, inglês, francês, espanhol… cursos de Design então, nem se fala! Hehe! Nos anos de estudante, por exemplo, sempre me matriculava nas disciplinas ofertadas nas férias. Aproveite o seu tempo.
  2. "Não jogue fora nenhuma parte sua". Essa frase tirei daquele livro do Austin Kleon, Roube como um artista, e ela me marcou muito. Por muito tempo eu achava que tinha que escolher. Entre uma área e outra, um título ou outro, aprender uma coisa ou outra. Inclusive, essa foi uma das dúvidas que recebi pelo Linkedin. Um parêntese: me perguntaram como foi, pra mim, decidir qual área do Design atuar. Resposta: nunca decidi. Eu faço o que eu gosto e o que me ajuda a pagar os boletos também. Haha! Como já dizia meu pai, “conhecimento nunca é perdido". Na verdade, quanto mais conhecimento você tem, mais repertório, e quanto mais repertório, maior a chance de ter grandes ideias e ter grandes ideias é gold para um UX designer. Tem um outro autor, Steven Johnson, que diz "o acaso favorece a mente conectada" e é exatamente isso que acontece quando você tem um repertório vasto.
  3. Não tenha medo. Clichê, eu sei, mas eu não teria chegado a lugar nenhum se tivesse acreditado na impostora que me dizia (e ainda hoje ela aparece de vez em quando) que eu não era capaz. Sabe aquela história (clichê também), o não você já tem? Pois é, eu sempre levei isso muito a sério e foi essa coragem que me levou até Recife, até o México e em breve me levará até a Califórnia (quero poder falar com detalhes sobre isso aqui. Sai fora, COVID!! Hihihi)
  4. Faça contatos, troque ideias. Em todo lugar que eu fui, sempre busquei conversar com pessoas que eu sabia que poderiam me guiar nessa trajetória do Design. Mostrar meu encantamento pela área, o que eu já tinha feito e o que eu ainda quero fazer foi essencial para criar conexões verdadeiras com essas pessoas. E deu super certo! Eu não cheguei onde cheguei sozinha e sou muito grata a todos que estiveram presentes nesse percurso, que me deram chances porque acreditaram no meu potencial. Do meu marido aos professores, profissionais de mercado, etc.
  5. Pratique o autoconhecimento. Quando lembro de mim há 10 anos, acho graça. Eu estava completamente perdida, mudando de foco a cada ano e seguindo o que as outras pessoas achavam que era o melhor pra mim. Por um lado, essa mudança de foco me permitiu conhecer muitas coisas diferentes. Por outro, sinto que fiquei alguns anos meio que à deriva e isso me impactou muito, negativamente, quando decidi mudar de área. Como falei lá em cima, me sentia velha demais pra isso. Mas, depois de muitos processos seletivos, ajuda de alguns profissionais e muita, muita reflexão sobre os passos que dei e que ainda quero dar, finalmente posso afirmar que meu lugar é no Design e, dentro dele, sou capaz de desbravar todos os caminhos que ele pode percorrer.
  6. Tenha um portfólio. Ainda que você não tenha projetos profissionais, os acadêmicos e fantasmas (aqueles que você faz para um cliente imaginário), são um bom começo. É por meio do portfólio que as pessoas podem avaliar suas habilidades e até entender mais sobre você, sua bagagem e sua personalidade. Cuide também da língua portuguesa! Textos mal escritos e informações sem organização demonstram, na minha opinião, falta de cuidado e interesse.

Com certeza aprendi muitas outras coisas, mas acho que aí estão os highlights da minha trajetória. Se você tiver outros aprendizados que queira acrescentar, dicas, sugestões e críticas construtivas são sempre bem-vindas (=

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Andrea Braga

I'm a designer focused on creating digital experiences and building ethical futures— currently working at Thoughtworks.