O Design na minha vida em 2021 | Parte II

Andrea Braga
6 min readJan 19, 2022

Sobre meu primeiro projeto internacional e outro desafios

Uma pessoa segurando um globo em um campo verde com o por-do-sol ao fundo
Photo by Ben White on Unsplash

Há algum tempo venho pensando em direcionar minha carreira para o mercado internacional. Acho que muita gente não sabe mas, lá no comecinho da minha carreira, meu sonho era ser diplomata. Sempre gostei de estudar idiomas, fiz cursos de inglês, espanhol, francês… sempre gostei muito de linguística e língua portuguesa também (essa paixão anda um pouco adormecida, mas ainda vive!). Sempre tive esse sonho de viajar o mundo inteiro e, como a vida não é um plano linear, ainda bem!, algumas coisas saíram um pouco diferentes do que eu imaginava.

Depois de algumas indecisões e muitas decisões, me tornei UX. Em junho desse ano consegui meu primeiro projeto internacional trabalhando em parceria com uma empresa do setor de telecomunicações do Reino Unido. E essa experiência rendeu muito estresse e ansiedade, mas também muitos aprendizados, algumas gafes, gargalhadas, mais aprendizados e… eu já disse aprendizados?

Como adoro fazer listas (e quem tem paciência pra ler meu Medium já deve ter notado), aqui vai mais uma. Lista de aprendizados do meu primeiro projeto internacional. Vem comigo!

Eu, durante intercâmbio na Cidade do México

1. Idioma
Apesar dos anos de inglês na minha vida, eu não sou fluente. Diria que tenho o inglês avançado e me comunico bem, mas quando você está inserida em um contexto de uso real da língua a coisa é beeem diferente. Não tem legenda, gente! E as pessoas não vão falar mais devagar só para que você entenda. Tínhamos pessoas de várias regiões anglófonas, como Escócia, Inglaterra e Estados Unidos no time, o que dificultava um pouco a compreensão por causa dos diversos sotaques e expressões linguísticas típicas de cada região. Com o tempo fui desenvolvendo algumas estratégias que me ajudaram com o entendimento:

a) Perguntar sempre que não entender alguma coisa. No começo pode ser bem difícil. Você não quer ser vista como a pessoa que não sabe inglês pois, teoricamente, todos os seus amigos sabem. Mas não se trata disso. Não é problema nenhum dizer que não entendeu porque, muitas coisas podem influenciar isso — a conexão da internet que fica picotando, o barulho ao fundo, pessoas que falam ao mesmo tempo e, bem, você não é nativa.
Além disso, muitas vezes eles também não vão te entender, e tá tudo bem. Assim, você pode, de maneira polida, tirar suas dúvidas. Algumas expressões como "I'm not sure if I understood, can you repeat, please?" ou "I'm sorry I didn't get it. Can you say that again, please? ou mesmo algo como "Just to confirm my understanding…" me ajudaram muito depois que rompi a barreira do não-quero-ser-vista-como-burra. O pior mesmo é sair de uma reunião cheia de dúvidas, pois isso pode impactar negativamente o andamento do projeto e com certeza suas entregas também. Outra opção é usar o chat para confirmar seu entendimento com o resto do time pt-br, se houver, ou com a cliente anglófona (achei essa palavra engraçada. hehe).

b) Escrever antes de falar. E dar aquela treinadinha básica no speaking antes de se pronunciar! Acredito que nesse sentido o trabalho remoto me ajudou muito já que, no começo, quando eu ficava bem nervosinha, já deixava todos os pontos que eu queria levantar anotados, além de algumas expressões básicas de suporte porque, sim, muitas vezes eu esquecia até como me despedir na reuniões, tamanha a ansiedade. Óbvio que com o tempo e o entrosamento com o time isso foi melhorando até o ponto de a gente chegar a fazer piadas, trocar ideias sobre as diferentes culturas, perguntar como foram as férias, como estava a família e etc.

c) Evitar falar rápido demais. Afinal, eles também sentem dificuldades em entender o nosso inglês (e aqui tô assumindo que você que está lendo é pessoa nativa do Brasil). Teve uma vez que pedi desculpas porque achava que não estava sendo clara e me disseram que "tudo bem porque o meu english era brazilian"!! Outras coisas que aprendi também, e isso graças ao time aqui do Brasil, foi evitar uso de contrações. Em vez de falar I'd say that, por exemplo, usar I would say that. Isso ajuda os gringos a nos compreenderem melhor (a propósito, gringo é pejorativo? se sim, me perdoe, use uma expressão melhor no lugar e me sugira para eu editar aqui). Outro ponto: evitar gírias, por motivos óbvios (não é legal nem em português, gente, convenhamos) e, o mais importante na minha opinião, evitar o uso do "guys", considerando que o time era bem diverso em termos de gênero (não tanto quanto poderia ser, mas isso fica para outra discussão). E isso foi super legal, pois me habituei a falar "hi, team" ou "bye, folks", expressões que não estava acostumada e ainda nos aproximava como um time único.

GIF By Hyper RPG

2. Síndrome da impostora
Quem nunca se sentiu uma fraude que atire a primeira pedra! Pois bem, no começo do projeto me perguntei várias vezes porque eu estava ali, já que não era fluente em inglês, não entendia nada do mercado da cliente e tinha pouco tempo de casa na TW. Com o tempo (sempre ele!) e com a nossa cultura de feedback, isso também foi mudando.

Aos poucos, ainda que timidamente, fui ganhando a confiança do time e isso me deu coragem para ir abrindo cada vez mais espaço. Para se ter uma ideia, tínhamos reuniões diárias com os principais stakeholders da cliente e, no começo, eu guardava minhas dúvidas para tirar com o time do Brasil ou com o Design lead da cliente, que era com quem eu sentia mais abertura para speak in english.

Mas, assim que entramos na etapa de prototipação, passamos a usar essas dailies para fazer sessões de feedbacks com os stakeholders e, para mim, isso foi excelente, pois quebrou várias barreiras minhas, pessoais e profissionais. Aproveitava essas sessões para influenciar as decisões de UX do time, questionando as sugestões que vinham daí, e trazendo a nossa consultoria para mais perto da tomada de decisão.

Foi assim também que me permiti influenciar a cliente em boas práticas de usabilidade, ao promover ações de design centrado na usuária. Pude coordenar testes de usabilidade por meio do Optimal workshop, ferramenta de testes, que ajudaram a cliente a tomar decisões e priorizar features de um jeito mais assertivo. Isso me ajudou a me tornar uma pessoa mais autônoma, questionadora e menos tímida.

TW archive

3. Rede de apoio da TW
Durante todo o projeto, fizemos palestras (eu diria conversas) e workshops internos sobre temas que poderiam nos ajudar na relação com a cliente e também a fazermos entregas melhores. Consultoria, profissionalismo, diversidade e inclusão foram alguns desses temas. Também tinham os tech hudles, que são conversas para troca de conhecimentos técnicos entre o pessoal de desenvolvimento. Além disso, contei com o apoio de outros designers da TW, especialistas em acessibilidade e visual, para me ajudarem nesse desafio. Isso contribuiu muito com meu crescimento como designer e para a evolução do meu fluxo de trabalho.

Se você trabalha ou já trabalhou com alguma empresa de outro país, me conta como foi essa experiência! Tenho certeza de que foi algo inesquecível, assim como a minha!

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Andrea Braga

I'm a designer focused on creating digital experiences and building ethical futures— currently working at Thoughtworks.