O papel do designer na construção de futuros desejáveis

Andrea Braga
3 min readJul 23, 2021
mão segurando um monóculo e ao fundo luzes embaçadas de uma cidade no por do sol

Em agosto do ano passado tive minha primeira experiência em consultoria em Estudos de Futuro. Desde a faculdade, quando entrei em contato pela primeira vez com o Design Especulativo, tinha vontade de entender mais e até trabalhar com essa área ou áreas correlatas desse Design. Trabalhar em parceria com a Guia Futurabilidade nesse sentido, foi a oportunidade perfeita! Fazer pesquisa e curadoria de conteúdos sobre futuro, entrar em contato com ferramentas como a roda do futuro ou linha do tempo e mostrar a importância de se pensar o futuro daqui a 10, 20 anos para líderes de grandes empresas como Ambev, certamente me deu uma bagagem necessária para minha trajetória como projetista. No meio disso tudo, tive também a oportunidade de participar da oficina Jogo Futuros Possíveis, oferecido pela Firjan, durante o Festival de Futuros Possíveis e esse foi um momento incrível, por vários motivos.

Sempre falamos de diversidade quando se trata de criar futuros mais éticos e inclusivos e durante a oficina ficou muito clara para mim a veracidade disso. Estava eu lá, em uma sala online, com pessoas que não conhecia, de várias idades, formações, sotaques e visões, imaginando como será o futuro em 5, 10, 20 anos. Essa diversidade toda deixou a discussão mais gostosa e a dinâmica do jogo muito mais rica.

Conversamos muito sobre como o mundo está se tornando cada vez mais híbrido, com limites bem difusos entre o humano e a tecnologia; sobre algumas tendências como biohacking, inteligência artificial, soberania dos dados e hiperlongevidade, para citar algumas. Entender essas transformações e como isso impacta cada um, me fez perceber o enorme poder que tenho nas mãos como designer.

No livro O designer humilde, do designer Charles Bezerra, ele traz a seguinte passagem, spertinente:

"(…) Temos muitas das respostas para nossos problemas, mas somos limitados em liderar meta-ações de longo termo. Como se criássemos sem liderança, sem direção. Sócrates, o filósofo, dizia que quem deveria liderar era aquele que tivesse mais virtude. Quando indagado sobre o que significava virtude, ele a definia como sendo a combinação de lógica e ética. Avançamos bastante em nossas lógicas, mas deixamos as questões éticas de lado".

Percebemos isso quando vemos softwares de reconhecimento facial que não reconhecem o rosto negro ou casos como o da bot Tay, do Twitter, cuja conta em menos de 24 horas precisou ser suspensa pela própria companhia, após Tay ter se tornado admiradora de Hitler e “viciada” em sexo, para citar os casos mais famosos.

Enquanto designers, não podemos fazer nada em relação ao passado, mas com certeza podemos planejar melhor o futuro. A nossa capacidade de projetar cenários nos permite projetar também produtos e serviços mais inclusivos, humanos e éticos, construindo, assim, futuros melhores para todos. Então me pergunto, você designer, pensa nisso quando projeta suas telas? Você sabe para quem está projetando? Você se preocupa com a acessibilidade dos seus produtos? Pergunta-se como isso vai impactar o mundo à sua volta?

Deixo aqui meu agradecimento ao time da Casa Firjan, Carol Fernandes e Aline Aride, à Guia Futurabilidade e aos colegas Victoria Fernandez, Francis Berenger e todos os outros, por terem me proporcionado um momento tão importante (e também descontraído) em tempos incertos.

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Andrea Braga

I'm a designer focused on creating digital experiences and building ethical futures— currently working at Thoughtworks.